sábado, 28 de setembro de 2013

Com amigas assim....

Conversa de café entre amigas...uma...grávida, barriguinha pequena de início de gravidez mas que não deixa margem para dúvidas...a outra...a outra, (caindo na eventual asneira de estar a estereotipar e tirar conclusões precipitadas), era a típica mulher solteira, emancipada, bem sucedida profissionalmente, super produzida...ou melhor...toda "quitada"...para quem os filhos são uma cena abominável e a gravidez uma doença pela qual só alguém mentalmente afectado se deixa contagiar....ou então (esta hipótese tornou-se para mim a mais válida depois de assistir a toda a conversa), uma grande invejosa pelo estado de euforia maravilhosa da amiga...porque a felicidade dos outros às vezes dói e a inveja é um sentimento muito feio...já dizia o outro...

O centro da conversa foi a "não grávida"...não havia cá histórias maravilhosas sobre a gravidez, o bebé, a hipótese de sexo, a escolha de nomes, o carrinho a escolher, etc...nada disso...a conversa era sobre o mito, na opinião da não grávida, dos desejos de grávida!!! "Tal coisa não existe e é uma desculpa esfarrapada das grávidas para enfardarem o que querem e terem desculpa para ficar umas lontras". Pois...e assim se desfez o sorriso da futura mamã, que saboreava um aparentemente divinal Molotof, cheia de desejos do molho de caramelo que o cobria....

Ora, ao ouvir isto quase, quase me meti na conversa...ou pedi um Molotof para mim para me solidarizar com a grávida...mas depois achei que isso seria uma grande desculpa esfarrapada para eu própria enfardar um doce e depois estava a dar razão à bruxa má...com a agravante que eu nem tenho uma gravidez para servir de bode expiatório, claro!!! 

Não, nunca tive desejos estranhos, nunca obriguei ninguém a levantar-se às 4 da manhã para me ir comprar tâmaras ou figos em pleno Inverno...mas tive vontade de consumir coisas com maior frequência ou de comer coisas que não gostava. E não era desculpa para nada porque se há taaanta coisa que gosto porque haveria de querer comer coisas de que não gosto?!!! 
Na 1ª gravidez, da C, bebia imenso sumo de laranja e comia imensas laranjas...muito mesmo...claro que depois tinha imensa azia e aftas mas não moderava o consumo...a propósito da azia, a mãe do pai dos meus filhos (podia dizer avó mas...) dizia que a minha filha ía nascer com imenso cabelo porque azia é sinal de cabelo...a avaliar pela azia que eu tinha já esperava que a C nascesse tipo Cher...nasceu quase sem cabelo...toma...
O "desejo" estranho que tive nesta gravidez foi de sardinhas e pimentos!!! Eu odiava ambos!!! Nem cheirar!! Até ao dia em que me apeteceu...comi...voltei a comer muitas vezes e 9 anos depois é das coisas que mais gosto e quem me tira sardinhas e salada de pimentos no Verão tira-me o próprio Verão!!!
And guess what....a C adooooora sardinhas e sumo de laranja!!! Desde bebé pequenina!!! Adora de paixão e por ela comia sardinhas todos os dias o Verão todo!!! Coincidência?!!! Sei lá...seguramente sim...

Na 2ª gravidez, do T, ao almoçar com uma amiga que comia favas com enchidos...apeteceu-me...comi, comi até não poder mais...repeti muitas vezes e hoje em dia adoro favas!!!! Se o T também gosta ainda não sei...acho que nunca me lembrei de lhe dar tal iguaria...parece-me um prato um pouco pesado, mas seguramente o meu querido filho vai amar e confirmar a minha teoria!!!

Portanto, amiga grávida que não conheço: estou contigo. Grávida tem desejos sim!!! Come o Molotof sem peso na consciência...mas também se não comeres não penses que o bebé vai nascer com cara de Molotof só porque não satisfizeste o teu próprio desejo...isso sim é que é um mito...isso e aquilo da relação azia vs quantidade de cabelo!!! 
Ah, e a outra teoria da tua "amiga" (espero que tenhas outras amigas e que mantenhas essa longe da criança quando nascer porque a inveja...essa sim, não é mito!!!!)...dizer que odeeeeia grávidas barrigudas?!!!! Pelo amor de Deus!!! Esquece, ignora, saboreia o teu doce enquanto ela fala...blá, blá, blá...as grávidas são lindas barrigudas!!! Não digo gordas balofas...mas com um barrigão daqueles!!! Eu tenho umas saudades das minhas mega barrigas!!!

Se mesmo assim quiseres continuar a ser amiga dela, diz-lhe que a gravidez é um estado de graça, que a maternidade vale cada quilo a mais, cada estria, cada grão de celulite, cada dor, cada noite mal dormida!!! E que a vida ganha um significado tão diferente...mas tão diferente que nem conseguíamos imaginar!!!


PS - adorava ter mais filhos....mas, para além de para tal ter que encontrar um pai para a criança...tenho algum receio de que com uma 3ª gravidez passasse a gostar de iscas...e eu odeio de morte e não quero nunca gostar de tal coisa!!! Há mais coisas que não gosto e poderia passar a gostar, mas algo me diz que à 3ª ficaria fã de iscas e eu nãaaaao quero!!! Se calhar mais vale não arriscar....

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

E num segundo...

....o mundo mudou...de forma abrupta e brutal...

12 anos depois ainda não consigo evitar as lágrimas...foi uma brutalidade devastadora...que ainda hoje me deixa sem palavras...
Conheci NY antes do 11 de Setembro...voltei lá depois...no início da construção do Ground Zero...com uma sensação de vazio...de dor e consternação...

NY nunca mais será a mesma.
O mundo nunca mais será o mesmo.

O fanatismo convertido em terrorismo ao mais alto nível...

Hoje mais que nunca o meu coração está com as mais de 3.000 pessoas que perderam a vida e com as suas famílias...um carinho especial pelos muitos bombeiros que perderam a vida a tentar salvar outros...e que me fazem lembrar os nossos bombeiros que todos os Verões lutam com todas as suas forças...benditos sejam pelo esforço, sacrifício e dedicação...




quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Triste...

Infelizmente as minhas férias tiveram mais notícias tristes para além da partida do meu avô...

A Ritinha está muito doente....a Rita é uma linda menina de apenas 5 anos, que no auge de uma infância feliz, a meio de umas férias felizes na praia, é confrontada com a triste realidade do diagnóstico de uma grave doença...um tumor cerebral...

Conheço a Rita, os pais, o irmão, a avó, tias, primos...há muitos anos...eu e os pais da Rita não somos propriamente amigos...moram no mesmo prédio onde eu morei em casa dos meus pais até me casar, onde a minha mãe morou até há tempos atrás...éramos vizinhos...onde outros familiares da Rita moram, pessoas que conheço desde sempre...mas num momento destes, a dor desta notícia ultrapassa o nível de amizade ou de proximidade...a Rita é uma menina, linda, amorosa, pouco mais nova que o meu T...e não consigo conceber tal crueldade da vida...

Quando o irmão da Rita nasceu eu estava grávida da C que nasceu meses depois...quando o Tomás nasceu a mãe da Rita estava grávida dela que nasceu meses depois...dizíamos em brincadeira que a C e o V estavam prometidos um para o outro e a Rita e o T idem...a C e o V brincavam todos os dias no pátio do prédio juntos...lembro-me de um dia em que chego do trabalho para ir buscar os miúdos a casa da minha mãe e a C e o V tomavam banho de piscina insuflável e mangueira em pleno pátio nas traseiras do prédio, enquanto a Rita e o T, bebés, cada um no seu carrinho, riam às gargalhadas com as brincadeiras dos respectivos irmãos mais velhos...não sei porquê mas está-me sempre a vir tal imagem à memória...

A Ritinha trava uma dura e complicada batalha...nem imagino a dor e o desespero dos pais...sentimento este o da impotência...de nada se poder fazer a não ser acreditar...

É nestes momentos em que me zango com Ele, em que quase duvido da sua existência...é nestes momentos em que sei que mais temos que acreditar...e que Ele nunca abandonará a Ritinha...e que dará àqueles pais mais força ainda (se possível) do que a que já têm...

A Rita não vai desistir, vai continuar a sorrir e a fazer os papás e o mano V felizes...e a ser feliz...

E nós por cá vamos continuar a rezar...


...e a manter acesa a chama da esperança...



Regresso...com uma grande perda...

Estou de volta...depois de semanas em que um turbilhão de emoções e acontecimentos fizeram parte de mim e da minha vida...
As férias acabaram...pelo menos as de Verão...alguns dias ainda reservados...que o meu lado emocional não aguenta pensar que em Agosto já havia esgotado as férias todas...
As férias são sempre férias, trazem-nos muito mas sabem a pouco. O regresso é sempre nostálgico, a contra gosto, difícil...confesso que de ano para ano custa sempre mais terminar as férias e regressar...sou muito mais feliz de férias, sem horários, sem pressas, sem saltos altos, sem calça e blazer, com sol, amor de filhos, de amigos, de família. 

Estive ausente daqui nas férias...porque quanto mais tempo disponível temos parece que menos o sabemos aproveitar e os dias passavam a correr e eu nem o computador ligava...porque planeava uma reentré no blog em grande, com reportagem completa das férias...porque este blog não é uma obrigação mas sim um gosto na partilha...

Mas tal como comecei este post, um turbilhão de acontecimentos preencheram estas minhas férias...perdi o meu avô...e tenho muitas saudades dele....e custou-me muito...e faz hoje 1 mês que ganhei um anjo da guarda...um homem que sempre dedicou a vida às 4 filhas, aos 8 netos, aos 2 bisnetos...que deu tudo o que tinha a tudo e a todos...de uma inteligência e cultura de elevado nível...com grande generosidade e sentido de humor...

Nunca me preparei para a morte dele...apesar da idade a tal ser propício...e para mim o inesperado custa sempre muito a digerir e a aceitar...consigo falar dele com um sorriso nos lábios, consigo todos os dias olhar para a fotografia dele na minha carteira e sorrir e lembrar-me de muito...da mesma forma em que não consigo evitar as lágrimas e o choro compulsivo...

Porque para além da dor da perda, vivo com a dor de não a ter vivido na hora certa, junto da minha família...o meu luto foi feito mais tarde...quando todos já "recuperavam" do embate...vivo com a dor de não me ter despedido dele...de não o ter acompanhado até ao fim, até ao último grão de terra lhe cobrir o caixão...porque só soube da morte dele 1 semana depois...

E aqui, a toda a dor junta-se um bocadinho de revolta e de mágoa...ao mesmo tempo um sentimento de como ser mãe e tentar sempre pensar naquilo que é melhor para os nossos filhos nos leva a tomar várias decisões ao longo da nossa vida muito difíceis...

O meu avô morreu de forma inesperada, em Guimarães onde vivia. Eu estava de férias no Algarve com as crianças e uns amigos...a 700 km de distância...a minha mãe avisou-me que ele tinha ido para o hospital...que estava muito mal...que a qualquer momento se esperava o pior...que não me diria nada caso algo acontecesse...implorei que me avisasse...assim ficou combinado...foi numa 2ª feira...domingo seguinte quando chego ao norte sou confrontada com a notícia que naquele mesmo dia em que foi para o hospital ele faleceu...quando eu e a minha mãe falámos a primeira vez sobre isso ele estava a minutos de falecer...

A minha mãe viu-se confrontada talvez com uma das maiores decisões da vida dela...a filha a 700 km de distância e com 2 filhos pequenos, o filho a 1500 km de distância...se o meu irmão soubesse iria meter-se no primeiro avião para portugal, custasse o que custasse...e numa altura complicada e com uma vida profissional intensa...eu iria enfiar 2 miúdos e respectiva bagagem à pressão num carro e iria conduzir sozinha 700 km, lavada em lágrimas e desnorteada, provavelmente descarregando a tristeza e angústia nos miúdos que para além da óbvia tristeza da perda do bisavô ainda perdiam o direito às tão ansiadas férias com os amigos...e as crianças obviamente não entendem estas coisas, felizmente para elas que ainda só vêem o lado bom da vida...

A pressão da restante família que a aconselhavam a não nos dizer nada...nada mudaria...a preocupação...em especial com a minha reacção, com a possibilidade óbvia de eu me meter no carro com 2 crianças completamente de rastos...e a certeza de que o meu avô, onde estivesse, onde está, iria querer que os bisnetos continuassem felizes a brincar na praia com os amigos, que eu continuasse a descansar de 1 ano de trabalho...o meu avô não gostava de dar trabalho, de incomodar, de dar despesa...nunca quereria que as nossas vidas mudassem...

Os argumentos são válidos, legítimos, enquanto mãe talvez tentasse pensar de forma assim tão racional e menos emocional...zanguei-me muito quando soube...com a minha mãe, com as minhas tias...o meu irmão zangou-se muito...mas no minuto seguinte caí em mim...que dor a da minha mãe...perder o pai e não ter com ela as pessoas mais importantes a apoiá-la, os filhos e os netos...pior...ter que responder sempre que eu perguntava se ele estava melhor...tirou-lhe anos de vida, chorar por dentro e ter que se fazer de forte...
Vivi e vivo um misto de emoções, por um lado compreendo a atitude da minha mãe, fez o que achou ser melhor para os filhos e para os netos e aquilo que o pai quereria, por outro não me conformo...não chorei com os meus, não consolei quando precisaram, não partilhei a dor, a despedida...falta-me essa despedida...

E é nos momentos de dor que muitas vezes avaliamos como ser-se mãe é muito difícil e pelos filhos tomamos decisões que sabemos ser duras mas sempre a achar que fazemos o melhor por eles...

Quando o meu outro avô faleceu os meus pais acharam que um funeral não era sítio para uma adolescente de 13 ou 14 anos ir...lembro-me como se fosse hoje, da mágoa que senti por não me ter despedido dele e jurei a mim mesma que nunca deixaria de estar presente numa despedida destas...mais de 20 anos depois a história repete-se...não me despedi do meu outro avô e continua a ser muito duro para mim...a mágoa vai passar, vão ficar as boas recordações de uma das pessoas que mais admiro e as saudades...muitas saudades....

A C e o T têm o melhor anjo da guarda...o meu anjo da guarda...


(há uns anos o meu avô decidiu dar grande parte das centenas de livros que tinha e eu fiquei com a Bíblia dele que deixei em cima da mesa de cabeceira e por lá ficou até hoje....hoje, mais do que nunca faz sentido...tenho ao meu lado todos os dias o meu anjo da guarda)