quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Regresso...com uma grande perda...

Estou de volta...depois de semanas em que um turbilhão de emoções e acontecimentos fizeram parte de mim e da minha vida...
As férias acabaram...pelo menos as de Verão...alguns dias ainda reservados...que o meu lado emocional não aguenta pensar que em Agosto já havia esgotado as férias todas...
As férias são sempre férias, trazem-nos muito mas sabem a pouco. O regresso é sempre nostálgico, a contra gosto, difícil...confesso que de ano para ano custa sempre mais terminar as férias e regressar...sou muito mais feliz de férias, sem horários, sem pressas, sem saltos altos, sem calça e blazer, com sol, amor de filhos, de amigos, de família. 

Estive ausente daqui nas férias...porque quanto mais tempo disponível temos parece que menos o sabemos aproveitar e os dias passavam a correr e eu nem o computador ligava...porque planeava uma reentré no blog em grande, com reportagem completa das férias...porque este blog não é uma obrigação mas sim um gosto na partilha...

Mas tal como comecei este post, um turbilhão de acontecimentos preencheram estas minhas férias...perdi o meu avô...e tenho muitas saudades dele....e custou-me muito...e faz hoje 1 mês que ganhei um anjo da guarda...um homem que sempre dedicou a vida às 4 filhas, aos 8 netos, aos 2 bisnetos...que deu tudo o que tinha a tudo e a todos...de uma inteligência e cultura de elevado nível...com grande generosidade e sentido de humor...

Nunca me preparei para a morte dele...apesar da idade a tal ser propício...e para mim o inesperado custa sempre muito a digerir e a aceitar...consigo falar dele com um sorriso nos lábios, consigo todos os dias olhar para a fotografia dele na minha carteira e sorrir e lembrar-me de muito...da mesma forma em que não consigo evitar as lágrimas e o choro compulsivo...

Porque para além da dor da perda, vivo com a dor de não a ter vivido na hora certa, junto da minha família...o meu luto foi feito mais tarde...quando todos já "recuperavam" do embate...vivo com a dor de não me ter despedido dele...de não o ter acompanhado até ao fim, até ao último grão de terra lhe cobrir o caixão...porque só soube da morte dele 1 semana depois...

E aqui, a toda a dor junta-se um bocadinho de revolta e de mágoa...ao mesmo tempo um sentimento de como ser mãe e tentar sempre pensar naquilo que é melhor para os nossos filhos nos leva a tomar várias decisões ao longo da nossa vida muito difíceis...

O meu avô morreu de forma inesperada, em Guimarães onde vivia. Eu estava de férias no Algarve com as crianças e uns amigos...a 700 km de distância...a minha mãe avisou-me que ele tinha ido para o hospital...que estava muito mal...que a qualquer momento se esperava o pior...que não me diria nada caso algo acontecesse...implorei que me avisasse...assim ficou combinado...foi numa 2ª feira...domingo seguinte quando chego ao norte sou confrontada com a notícia que naquele mesmo dia em que foi para o hospital ele faleceu...quando eu e a minha mãe falámos a primeira vez sobre isso ele estava a minutos de falecer...

A minha mãe viu-se confrontada talvez com uma das maiores decisões da vida dela...a filha a 700 km de distância e com 2 filhos pequenos, o filho a 1500 km de distância...se o meu irmão soubesse iria meter-se no primeiro avião para portugal, custasse o que custasse...e numa altura complicada e com uma vida profissional intensa...eu iria enfiar 2 miúdos e respectiva bagagem à pressão num carro e iria conduzir sozinha 700 km, lavada em lágrimas e desnorteada, provavelmente descarregando a tristeza e angústia nos miúdos que para além da óbvia tristeza da perda do bisavô ainda perdiam o direito às tão ansiadas férias com os amigos...e as crianças obviamente não entendem estas coisas, felizmente para elas que ainda só vêem o lado bom da vida...

A pressão da restante família que a aconselhavam a não nos dizer nada...nada mudaria...a preocupação...em especial com a minha reacção, com a possibilidade óbvia de eu me meter no carro com 2 crianças completamente de rastos...e a certeza de que o meu avô, onde estivesse, onde está, iria querer que os bisnetos continuassem felizes a brincar na praia com os amigos, que eu continuasse a descansar de 1 ano de trabalho...o meu avô não gostava de dar trabalho, de incomodar, de dar despesa...nunca quereria que as nossas vidas mudassem...

Os argumentos são válidos, legítimos, enquanto mãe talvez tentasse pensar de forma assim tão racional e menos emocional...zanguei-me muito quando soube...com a minha mãe, com as minhas tias...o meu irmão zangou-se muito...mas no minuto seguinte caí em mim...que dor a da minha mãe...perder o pai e não ter com ela as pessoas mais importantes a apoiá-la, os filhos e os netos...pior...ter que responder sempre que eu perguntava se ele estava melhor...tirou-lhe anos de vida, chorar por dentro e ter que se fazer de forte...
Vivi e vivo um misto de emoções, por um lado compreendo a atitude da minha mãe, fez o que achou ser melhor para os filhos e para os netos e aquilo que o pai quereria, por outro não me conformo...não chorei com os meus, não consolei quando precisaram, não partilhei a dor, a despedida...falta-me essa despedida...

E é nos momentos de dor que muitas vezes avaliamos como ser-se mãe é muito difícil e pelos filhos tomamos decisões que sabemos ser duras mas sempre a achar que fazemos o melhor por eles...

Quando o meu outro avô faleceu os meus pais acharam que um funeral não era sítio para uma adolescente de 13 ou 14 anos ir...lembro-me como se fosse hoje, da mágoa que senti por não me ter despedido dele e jurei a mim mesma que nunca deixaria de estar presente numa despedida destas...mais de 20 anos depois a história repete-se...não me despedi do meu outro avô e continua a ser muito duro para mim...a mágoa vai passar, vão ficar as boas recordações de uma das pessoas que mais admiro e as saudades...muitas saudades....

A C e o T têm o melhor anjo da guarda...o meu anjo da guarda...


(há uns anos o meu avô decidiu dar grande parte das centenas de livros que tinha e eu fiquei com a Bíblia dele que deixei em cima da mesa de cabeceira e por lá ficou até hoje....hoje, mais do que nunca faz sentido...tenho ao meu lado todos os dias o meu anjo da guarda)


Sem comentários:

Enviar um comentário