quarta-feira, 29 de maio de 2013

Um acto de coragem ou uma atitude levada ao extremo?....


Angelina Jolie retira seios para evitar cancro


Muito se tem escrito, falado, especulado...muitos enaltecem tal atitude, muitos apelidam-na de louca, exagerada ou sensacionalista...
Para mim é tão somente um acto de coragem, de amor à vida!!!

Angelina Jolie tomou a decisão da vida dela depois de saber que, visto ser portadora do gene BRCA1, tinha quase 90% de probabilidade de desenvolver cancro da mama e 50% de desenvolver cancro dos ovários. Isto depois de ter assistido à longa luta da mãe que acabou por perder a guerra. Isto depois de ver a tia, irmã da mãe adoecer, da mesma doença (que viria a falecer dias depois de A.J. ter tornado pública a sua decisão).

Ah e tal ela tem dinheiro...levantam-se algumas vozes...sim tem!!! O facto de ter dinheiro não diminui a "grandeza" da atitude. Claro que com dinheiro se assegura uma série de coisas, como bons médicos, bons hospitais, bom acompanhamento, bons tratamentos reconstrutivos mas...não deixa de ser uma decisão...daquelas...

Sei de perto o quão dura e brutal é esta doença tão silenciosa que aparece sem avisar, sem ser convidada e sem deixar pistas. Quase perdi a minha mãe. E escrevo quase apesar de nunca sequer ter colocado essa hipótese, apesar da minha mãe nunca ter estado no limiar de perder esta guerra...pelo menos não na minha cabeça ou no meu coração. Mas quem tem cancro trava sim uma batalha contra a morte...e uma dura batalha...

Quando soube desta notícia a 1ª coisa em que pensei foi "e se fosse eu?"...e com a mesma rapidez respondi-me "faria exactamente o mesmo"...
Não...não sou um super mulher, não trago às costas toda a coragem do mundo...mas no meu íntimo, numa resposta imediata seria esta a minha. 

Penso muitas vezes como reagiria perante um diagnóstico de cancro...penso mesmo muito nisso...talvez por ter vivido de perto essa doença...a minha mãe há 7 anos...há muitos mais anos atrás, em pleno auge da nossa juventude um grande amigo...2 lutadores sobreviventes...
E penso que faria tudo o que estivesse ao meu alcance para evitar ou combater esta doença. 

Lembro-me que quando os médicos disseram à minha mãe que a cirurgia dela seria conservadora (não iria ser retirado o seio, apenas o nódulo) eu tive um sentimento ambíguo....por um lado...ainda bem, menor o sofrimento se o impacto visual fosse menor (sim, porque o cancro é uma doença de forte impacto visual...que não nos deixa esquecer quando nos olhamos ao espelho...a falta de cabelo, o corpo inchado, as olheiras, a pele amarelada, o corpo "mutilado")...por outro lado senti uma espécie de desânimo...manter o seio doente para mim significava algo como manter a doença por perto.
Nunca transmiti esse sentimento mas quando o médico acabou de dizer isto a minha mãe de imediato o interrompeu e fez-lhe um pedido que me fez sentir mais leve pelo pensamento que havia tido ao mesmo tempo que senti um imenso orgulho pela força daquela mulher que estava destruída e arrasada, sentada ao meu lado numa cadeira de um consultório frio e insípido do IPO.
"Tire tudo...tire a mama toda...aliás, tire já a outra também"...foi este o pedido da minha mãe...
Nesse momento imaginei-me a mim naquela cadeira...seria esse o meu pedido...seria e será essa a minha atitude se um dia a vida me reservar tal provação...

Por tudo isto, com mais ou menos dinheiro, admiro a atitude de uma mulher jovem e bonita como a Angelina Jolie, a quem a vida deu uma trágica herança mas que deixou de lado a vaidade, o orgulho e decidiu que a vida, a saúde, os filhos, são mais importantes...

Atitude radical? 

Claro que sim...mas o cancro não é uma doença radical?!!!

PS1 - os médicos não fizeram a vontade à minha mãe...seria um excesso de zelo desnecessário no caso dela.

PS2 - sobre o IPO...é o "melhor" hospital do mundo...que me perdoem todos os outros...mas naquele hospital respira-se solidariedade, força, coragem, compaixão, competência....e é uma escola de vida...lembro-me do 1º dia em que lá entrei em que a minha mãe me disse para eu não levantar a cabeça, porque era duro atravessar aqueles corredores sem ser a olhar para o chão, com tanta gente "apanhada" por este "bicho" horroroso...novos, velhos, crianças...imensa gente da minha idade...mas decidi que as coisas enfrentam-se de frente...nunca deixei de olhar em frente...engoli em seco muitas vezes...chorei ao ver chorar, ao ouvir as histórias, os depoimentos...as poucas vezes que a minha mãe teve que ir às urgências senti-me como se tivesse deixado de respirar tal a dureza de ver pessoas simplesmente à espera de morrer...as famílias devastadas nos corredores...fiz 9 meses de gravidez naqueles corredores...acho que se todos nós passássemos 1 dia naqueles corredores, naquelas urgências, naquelas salas de tratamento...daríamos muito mais valor à vida, às pequenas coisas, às grandes...a tudo...







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